Entrevista | A gestão do câncer no Brasil com Roberto Gil, diretor-geral do INCA

Roberto de Almeida Gil, oncologista clínico, diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (INCA), ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), membro da American Society of Clinical Oncology (ASCO) e membro titular da European Society of Clinical Oncology (ESMO) | Foto: Matheus Pé

Em comemoração ao Dia do Oncologista, celebrado em 9 de julho, o Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC) vai além das merecidas homenagens aos especialistas que dedicam suas vidas ao cuidado com os pacientes oncológicos. Este ano, o Instituto apresenta uma entrevista exclusiva com Roberto de Almeida Gil, diretor do Instituto Nacional de Câncer (INCA), para abordar os desafios da gestão oncológica no país.

Gil compartilha sua visão sobre o acesso à saúde, sustentabilidade do sistema, envelhecimento da população e os avanços na gestão pública do câncer. O oncologista enfatiza também a relevância de parcerias que possibilitam a troca de conhecimentos e recursos, promovendo uma rede de apoio fundamental para a construção de acesso equitativo e serviços de qualidade.

IGCC: Qual o maior desafio no cenário oncológico para a gestão pública da saúde atualmente?

RG: O maior desafio que eu vejo hoje é a garantia do acesso. Há uma dificuldade no sistema público de atender a população em geral. A população precisa sentir que o setor público é capaz de atendê-la em um prazo necessário às suas demandas.

O segundo aspecto que eu destaco é a questão da sustentabilidade. Temos hoje um custo da medicina muito elevado, então, devemos saber utilizar melhor os recursos, equilibrando entre aquilo que o sistema público tem hoje para gastar e o que pode priorizar na sua melhor utilização.

O envelhecimento da população brasileira levou ao desenvolvimento de um número muito grande de doenças crônicas não transmissíveis. Conseguir organizar o sistema no sentido desse enfrentamento é um desafio hoje.

IGCC: Como o senhor acredita que a sociedade civil organizada possa melhor contribuir para o controle do câncer nas cidades brasileiras?

RG: Em uma sociedade democrática, a sociedade civil organizada tem um papel fundamental. Não existe possibilidade de se ter uma gestão participativa se não houver a sociedade civil organizada contribuindo para a definição de prioridades. Penso que as sociedades médicas, o terceiro setor, o Conselho Nacional de Saúde e também todos os órgãos representativos dos usuários são importantes na contribuição para que aqueles que têm a gestão possam desenvolver políticas que realmente cheguem e atinjam as pessoas.

IGCC: Qual o maior ganho em unir “ao redor da mesa” o setor público, privado, sociedade civil organizada e sociedades médicas para debater políticas públicas?

RG: Acho que há um ganho fundamental. Quando você tem as potencialidades de cada um desses setores convergindo, sinergicamente, para a construção de políticas públicas, o resultado pode ser muito melhor. Hoje há uma carência de recursos, mas o terceiro setor tem recursos, o setor público tem recursos, as sociedades, em geral, têm contribuições para a organização. Reunir numa mesa todo mundo e tentar construir uma política que vá ter capilaridade, realmente, gera uma chance muito maior de se obter melhores resultados. Acho fundamental e de suma importância que isso aconteça.

O IGCC expressa o respeito a todos os médicos oncologistas pelo incansável trabalho e dedicação no cuidado com os pacientes oncológicos e parabeniza pelo compromisso no enfrentamento ao câncer!