Completando um mês do início das atividades da Coalizão Força Onco no dia 07 de junho, o Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC) entrevista Rafael Vargas, oncologista clínico responsável pela equipe médica do abrigo para pacientes oncológicos montado em Porto Alegre e um dos integrantes da coalizão.
IGCC: No início de maio, diversas organizações da sociedade civil se uniram para ajudar os pacientes com câncer impactados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Conte como surgiu a Coalizão Força Onco RS.
RV: A Força Onco é uma coalizão formada por diversas instituições não governamentais, voluntários leigos e profissionais voluntários da saúde. Sua criação foi motivada pela necessidade urgente de apoiar pacientes oncológicos afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A Força Onco oferece assistência variada, incluindo contato com instituições de tratamento, doação de roupas, calçados e itens básicos de higiene pessoal, fornecimento de cestas básicas, medicamentos e até mesmo abrigo seguro, permitindo que os pacientes continuem seu tratamento de forma adequada.
IGCC: Quais os principais aprendizados desta experiência para o cenário da oncologia em situações de desastre?
RV: Acredito que o principal aprendizado foi a rápida capacidade de mobilização entre várias instituições com um objetivo comum: o cuidado com o paciente oncológico. Em um curto período, obtivemos o apoio de ONGs, hospitais, clínicas e numerosos voluntários. Os papéis de cada um foram distribuídos e, como pequenas engrenagens, começaram a funcionar de maneira sincronizada, possibilitando a realização de diversas entregas. Outro aprendizado importante tem sido a cooperação da sociedade civil, hospitais e diversas esferas de governo. Devido à emergência climática, todos os atores tiveram que ceder em suas burocracias institucionais e trabalhar juntos, como partes de um só corpo. Vimos que é possível trabalhar de forma eficaz e rápida para dar vazão à uma demanda inesperada.
IGCC: Além da necessidade de abrigo e dificuldade de transporte para realizar os tratamentos, quais as outras maiores demandas dos pacientes oncológicos durante este período? E como o senhor acredita que o poder público poderia mitigar tais dificuldades para a população que já está enfrentando uma situação extremamente complexa como o diagnóstico e tratamento do câncer?
RV: As demandas sociais são variadas, incluindo necessidades como cestas básicas, moradia, documentos, medicamentos, entre outras. Talvez o poder público pudesse criar espaços temporários onde a população tivesse acesso centralizado às soluções. Em um único local, os cidadãos poderiam emitir documentos, retirar medicamentos, acessar programas sociais e receber as orientações necessárias. Muitos pacientes ficaram perdidos logo após o desastre, desorientados sobre onde conseguir informações confiáveis, medicamentos e como dar seguimento aos tratamentos. Se houvesse um sistema já consolidado de navegação, por exemplo, esses temores seriam menores e mais simples de serem solucionados.
O IGCC agradece imensamente a parceria e apoio de todas as pessoas e organizações envolvidas na Coalizão Força Onco, unindo esforços em prol dos pacientes oncológicos que sofreram com o desastre climático no Rio Grande do Sul.