O Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC) promoveu o “Seminário Programas de Navegação do Paciente Oncológico no SUS” na segunda-feira, dia 26 de junho de 2023, em evento fechado no Centro Administrativo do Grupo Hospitalar Conceição (GHC). O seminário fez parte da união de dois projetos que o Instituto possui em parceria com o GHC e Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre relacionados à navegação de pacientes oncológicos no Sistema Único de Saúde (SUS).
Através da união de estratégias de duas iniciativas – os projetos BEACON Initiative e Melhoria do Diagnóstico Precoce de Câncer no Brasil, o IGCC visa fomentar a discussão e melhoria da qualidade do tratamento oferecido ao paciente oncológico no sistema público. Com essa missão, o objetivo do evento foi promover uma troca de experiências entre as equipes de enfermagem dos hospitais sobre os programas de navegação de pacientes oncológicos implementados na realização dos projetos.
Durante os painéis do seminário, enfermeiras da linha de cuidado oncológico do GHC e Santa Casa relataram suas experiências, dificuldades, resultados e expectativas a partir da implementação dos programas de navegação. “Os pacientes navegados possuem um nível de satisfação muito maior do que os que não passam pelo programa. Eles relatam uma experiência mais agradável durante o tratamento, além de receberem diversas orientações para educação em saúde e aconselhamentos. Muitos artigos já trazem resultados dessa satisfação superior do paciente navegado”, relata a enfermeira navegadora Fernanda Pautasso, da Santa Casa.
Entenda sobre navegação de pacientes oncológicos:
A navegação de pacientes é um processo que surgiu nos Estados Unidos com o objetivo principal de eliminar barreiras socioeconômicas, culturais, psicológicas, burocráticas, de comunicação, ou de qualquer outro fator limitante no decorrer do cuidado ao paciente. A intenção é que não ocorram desistências ao longo das etapas de prevenção, diagnóstico, tratamento e cuidados paliativos.
Os navegadores, comumente enfermeiros, são responsáveis por avaliar as necessidades particulares de cada paciente e desenvolver em conjunto um plano de cuidados com o objetivo de superar desafios no acesso à assistência em saúde de qualidade e aumentar a probabilidade de adesão à terapêutica proposta.
Flávia da Silva, enfermeira da Gestão Oncológica do GHC, pontua sobre as dificuldades do sistema público em assumir todos os pacientes em tempo hábil e como a navegação facilita o processo de cuidado. “O paciente está sendo tratado mais rapidamente e, para o paciente com câncer, isso é excelente. Tempo é tudo para ele. Então a navegação vem otimizando esse tempo do paciente e dos profissionais também, auxiliando na organização da jornada de cuidados oncológicos”.
Diversas pesquisas vêm demonstrando evidências científicas quanto à eficácia dos programas de navegação em relação ao diagnóstico precoce, participação efetiva e adesão dos pacientes, diminuição no atraso do início do tratamento e na melhora clínica, resultando em um bom desfecho. Além disso, muitos são os benefícios para o processo assistencial da instituição. “Os programas apontam para onde o processo institucional não está eficiente. Nos ajuda a melhorar a qualidade e a confiabilidade da assistência. Ainda, conseguimos educar o paciente com informações para que ele fique cada vez mais autônomo no seu cuidado em saúde”, destaca Pautasso.
Atualmente, nos programas internacionais, os navegadores são profissionais da área da saúde, estudantes e leigos voluntários, cada um com atribuições específicas de acordo com o seu nível de conhecimento. No Brasil, a quase totalidade dos programas de navegação para pacientes de câncer são oferecidos por hospitais privados.
A intenção a partir da realização do seminário é que as equipes de oncologia dos hospitais participantes sejam, de agora em diante, multiplicadoras do conhecimento acerca da navegação de paciente oncológico, aprimorando e expandindo seus próprios programas e estimulando que outros centros de saúde criem os seus para trabalharem por melhores desfechos no enfrentamento ao câncer nas cidades.
Marcelo Capra, coordenador dos setores de hematologia e oncologia do GHC, coordenador técnico do projeto no hospital e membro do Conselho de Administração do IGCC, finalizou o evento realçando a importância de momentos de troca entre as grandes instituições de saúde. “É fundamental trocarmos experiências para saber o que dá certo em um local e pode ser adaptado para outro. Isso dá potência para o conjunto da cidade, não só para o hospital. O cuidado ao paciente oncológico é um desafio para as instituições públicas, mas a navegação vem mostrando seus benefícios no dia a dia dos atendimentos”.
Conheça os projetos envolvidos
O projeto BEACON – Building Expertise, Advocacy and Capacity for Oncology Navigation é uma iniciativa liderada pela American Cancer Society (ACS) que tem por objetivo apoiar sistemas de saúde de países em desenvolvimento para projetar, implementar e conduzir programas de navegação de pacientes oncológicos. A plataforma da ACS serve como uma “caixa de ferramentas” para orientar gestores hospitalares e profissionais da saúde na organização de programas de navegação na jornada de atendimento ao paciente com neoplasias.
A supervisora de ambulatórios de quimioterapia da Santa Casa, Gabriela Riboli, participou do projeto BEACON e comenta suas impressões da plataforma: “Ajudou a identificar barreiras que nós e os pacientes podemos encontrar na jornada de cuidado. Também, instrumentaliza os profissionais por ser uma ferramenta muito rica e robusta”.
Já o projeto Melhoria do Diagnóstico Precoce de Câncer no Brasil tem por objetivo aprimorar a qualificação dos profissionais da atenção primária em oncologia para que haja mais eficiência no diagnóstico, facilitar o acesso ao tratamento especializado e fortalecer a rede do sistema de saúde da cidade de Porto Alegre. O seminário organizado pelo IGCC está relacionado à terceira estratégia da iniciativa, que busca desenvolver programas de navegação de pacientes oncológicos com câncer de pulmão e melanoma.
Aproveitamos a oportunidade para agradecer aos parceiros do IGCC, pelo apoio institucional ao enfrentamento ao câncer no Brasil, em especial à BMS Foundation, MSD e American Cancer Society – BEACON Initiative por apoiarem a realização dos projetos.