Até maio de 2023, Porto Alegre já registrou 261 mortes por câncer gastrointestinal. Essa informação está presente no último levantamento da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e da Procempa, que mostra as neoplasias malignas dos órgãos digestivos como as principais causas básicas de óbito nesse ano na cidade. O dado alarmante foi apontado por Daniely Votto, diretora executiva do Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC).
Com esse cenário, o Instituto apoiou a realização e esteve presente no evento “Câncer gastrointestinal: Principal causa de morte em Porto Alegre em 2023. Quais os motivos? O que podemos fazer?”. O encontro ocorreu no Espaço HealthPlus do Tecnopuc, em Porto Alegre, no dia 29 de maio, Dia Mundial da Saúde Digestiva.
A atividade buscou abordar ações de enfrentamento ao câncer gastrointestinal assim como debater possíveis causas para o elevado número de casos na cidade e no país. O Centro de Saúde Digestiva do Hospital Ernesto Dornelles foi o responsável pela organização do evento.
Dr. Guilherme Becker Sander, Gestor do Centro de Saúde Digestiva do Hospital Ernesto Dornelles e Diretor Científico da Sociedade Gaúcha de Gastroenterologia, apontou como fator de risco para o desenvolvimento das neoplasias gastrointestinais o consumo de alimentos ultraprocessados – que tenham passado por técnicas de processamento em fábricas e que contenham mais de dois a três ingredientes. Segundo ele, “a cada 10% que se consuma a mais desses alimentos, aumenta consideravelmente o risco de câncer. Foram mais de 800 mil pessoas observadas ao redor do mundo para embasar essa informação”.
Dr. Ítalo de Maman Júnior, Presidente da Sociedade Gaúcha de Gastroenterologia, também participou do evento e acrescentou o sedentarismo à lista de fatores de risco. “É um câncer prevenível através do estilo de vida e exames preventivos. Precisamos fazer diagnóstico precoce, modificar hábitos, dieta e realizar atividade física. Temos que divulgar o conhecimento, é o que estamos fazendo aqui”.
Ainda nessa linha, Dr. Rafael Noda, Presidente da Sociedade de Endoscopia Digestiva do Paraná, incluiu o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas na lista. Chamando de “métodos de prevenção primária”, destacou que a alta mortalidade está associada ao estilo de vida moderno, à falta diagnóstico precoce e de tratamento adequado que não estão sendo efetivos para combater a doença. De acordo com Dr. Noda, “a taxa de sobrevida ao câncer gástrico no Brasil é de 5% após o diagnóstico segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA)”.
Um alerta importante veio do Dr. Rafael Picon, Professor Coordenador do Ambulatório de Doença Inflamatória Intestinal do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA): “É um câncer prevenível. É um privilégio da gastroenterologia. Não é toda especialidade que pode prevenir câncer”.
Os médicos reforçaram que a prevenção passa, de forma extremamente importante, pela realização de exames de diagnóstico como a colonoscopia. Porém, no contexto do sistema público de saúde, os pacientes podem ter que esperar até seis meses para conseguir acesso ao procedimento. Além disso, os especialistas lamentam que, mesmo sendo oferecida a colonoscopia, existe um certo preconceito na população em relação ao exame. Entretanto, essa cultura está mudando e é preciso engajamento da sociedade e de outras especialidades médicas no enfrentamento à doença.
“São mortes evitáveis, e isso só aumenta a tragédia do fato. Não precisaríamos perder tanta gente. Podemos reduzir em 33% o risco de câncer através da mudança no estilo de vida, sem depender do poder público, dinheiro ou tecnologia”, reforça o Dr. Rafael Picon.
Daniely Votto, que foi mediadora da conversa, encerrou o evento reforçando a necessidade de desmistificar o exame preventivo.