Ritter participou, neste mês, de atividades promovidas pelo Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC) apresentando as ações de Porto Alegre para diminuir a carga da doença no município. O Secretário foi um dos painelistas do Curso de Políticas Públicas (leia aqui) realizado durante o 26º Congresso Brasileiro de Mastologia, que ocorreu de 10 a 13 de abril na capital gaúcha.
O IGCC aproveitou a participação de Fernando Ritter para abordar mais profundamente a parceria com o Instituto e a gestão da saúde oncológica na cidade.
IGCC: Em maio fecha um ano da sua segunda gestão como Secretário de Saúde de Porto Alegre, sendo esta a primeira com a parceria do Instituto de Governança e Controle do Câncer. Como o senhor avalia a união de esforços com o IGCC no enfrentamento ao câncer no município?
FR: Ampliar os serviços e tratamento não é suficiente. Porto Alegre tem mais de um milhão de habitantes e os casos vão aumentar em 60% nas próximas duas décadas. O C/Can e o IGCC ajudaram a enxergar macro, onde estão os gargalos da cidade, nos auxiliaram a focar e otimizar recursos. A presença física do Instituto em Porto Alegre ajuda muito. Nós gestores não temos tempo de observar atentamente todos os problemas. O IGCC tem feito a diferença e nos ajudado a ver o câncer com outra visão.
O Instituto também traz a expertise de outros países e cidades em relação ao cuidado com o câncer, traz qualidade, nos direciona nas ações de controle. Tivemos que mexer em processos e em estrutura para dar a acessibilidade além do acesso. É preciso que o gestor esteja motivado, que estimule boas práticas e boas experiências para que sejam incorporadas no dia a dia.
IGCC: Como a Secretaria Municipal de Saúde está trabalhando para controlar a doença e oferecer melhores serviços oncológicos ao cidadão?
FR: Somos 390 equipes na rede do território trabalhando de forma integrada para tentar rastrear o máximo possível nas unidades de atenção primária. Buscamos acelerar o diagnóstico precoce através dos exames e colocar isso de forma rápida para o paciente e tentar, obviamente, colocá-lo em tratamento dentro dos nossos hospitais de média e alta complexidade para que possamos evitar um desfecho pior, uma sequela ou inclusive o óbito. Para isso nós temos integrado os sistemas de informação, fazendo a navegação do paciente, mas ainda temos desafios.
É preciso trabalhar preventivamente o papel das unidades básicas de saúde, o agente comunitário de saúde, o enfermeiro, técnico de enfermagem, o médico que está lá na ponta, nas 134 unidades de saúde para colocar o paciente certo, no lugar certo, no tempo certo e evitar problemas maiores.
IGCC: Qual o principal desafio para melhorar o acesso e os cuidados oncológicos na cidade?
FR: Porto Alegre tem estrutura, mas ainda estamos recuperando muito do tempo de pandemia onde as pessoas evoluíram nas doenças e precisam de atendimento rápido. E a cidade, além de ser a capital, acaba sendo referência para outros municípios, ou se não todos, em termos de oncologia. Por isso, um ponto importante onde queremos chegar é na operacionalização dos sistemas e na qualificação dos dados do Registro de Câncer de Base Populacional, os centros sistematizados de coleta, armazenamento e análise de dados da doença. Eu, como epidemiologista, posso dizer que não é fácil traduzir esse monte de dados para 134 UBSs, 19 hospitais e mais de 90 mil trabalhadores de saúde. Porém, eles servem para que possamos ver onde estão os casos e direcionar os esforços da atenção básica, de rastreamento, de diagnóstico precoce de forma mais rápida. E nós temos trabalhado muito com essas informações para subsidiar o monitoramento.
Porto Alegre já tem sistemas de gerenciamento integrados que foram, inclusive, disponibilizados para todo o Estado, onde todos os hospitais estão integrados em um prontuário único, sistema de internações e o sistema de gerenciamento de procedimentos de alta complexidade. Com eles, conseguimos monitorar e ver exatamente quais são os pontos e gargalos que temos. Estamos colocando inteligência para traçar a trajetória do usuário. Nossa falha ainda, mas que vamos superar, estamos muito próximos, é integrar o prontuário eletrônico da atenção primária em saúde, o e-SUS, com os sistemas de gerenciamento de consultas e internações que já temos. Nossa cidade será um dos cinco locais onde será testada essa integração e saberemos exatamente quando o paciente aparece em algum ponto da rede. Facilitará muito a gestão da saúde na cidade.
O IGCC agradece a parceria da Secretaria Municipal de Saúde nas ações e projetos de enfrentamento ao câncer em Porto Alegre. Juntos, transformamos a realidade da doença e promovemos a melhoria do acesso equitativo e de qualidade ao diagnóstico precoce e tratamento do câncer.