Iniciativas globais, políticas públicas e a governança no controle do câncer nas cidades

Foto: Uillian Vargas

Porto Alegre foi sede do 26º Congresso Brasileiro de Mastologia, organizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia em parceria com o Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC). O congresso ocorreu de 10 a 13 de abril, no centro de eventos do Barra Shopping, reunindo médicos, especialistas, pesquisadores, gestores da saúde e organizações da sociedade civil.

Como atividade de pré-congresso, o IGCC promoveu o Curso de Políticas Públicas composto pela Aula Magna: A Iniciativa Global para o Câncer de Mama: do conceito à prática nos países em desenvolvimento, ministrada pelo Dr. Ben Anderson. Além desta, foram organizados dois painéis para debater a nova Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC) e o papel das cidades no enfrentamento da doença.

Ben Anderson abordou o objetivo compartilhado da Global Breast Cancer Initiative (GBCI), da Organização Mundial da Saúde (OMS), para reduzir a incidência do câncer de mama em 2,5% por ano, o que pouparia 2,5 milhões de vida em duas décadas de ações.

Os tumores mamários são os mais comuns em todo o mundo e a principal causa de morte por câncer em mulheres em muitos locais, afetando desproporcionalmente a população de países de baixa e média renda, como o Brasil. O GBCI, iniciativa criada em 2021, busca fornecer aos gestores nacionais e municipais, tomadores de decisões políticas, a orientação necessária para avaliar, reforçar e ampliar os serviços de diagnóstico precoce e tratamento do câncer de mama.

As ações do GBCI são estruturadas em três pilares relacionados à promoção da saúde, diagnóstico em tempo oportuno e gestão do tratamento. Ainda reforça a necessidade do trabalho conjunto entre governos, sociedades médicas/profissionais da saúde e as organizações da sociedade civil.

Este não é só um problema social, ou um problema econômico, é um desafio geracional, e é por isso que precisamos olhar atentamente para ele. E somente pela união entre os stakeholders envolvidos nos cuidados com a doença que promoveremos a mudança que precisamos. Se conseguimos fazer para o câncer de mama, o modelo pode servir de base para outros desafios que o sistema de saúde possui”, explica Anderson.

Foto: Uillian Vargas
Foto: Uillian Vargas

O pré congresso também abordou iniciativas nacionais de enfrentamento ao câncer. O painel “Perspectivas da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC)” contou com a participação de Fernando Maia, Coordenador-Geral da PNPCC no Ministério da Saúde; Roberto Gil, Diretor Geral do Instituto Nacional de Câncer (INCA); Fernando Ritter, Secretário de Saúde de Porto Alegre; Maira Caleffi, médica mastologista e presidente do board do IGCC; e o Dr. Ben Anderson, líder técnico global para câncer de mama do City Cancer Challenge (C/Can). A mediação do painel foi realizada pela jornalista e apresentadora Rosane Marchetti.

Foto: Jéssica Goulart / IGCC

Fernando Maia abriu os debates trazendo as estatísticas nacionais do câncer, a distribuição dos exames e serviços oncológicos e as perspectivas para qualificar e aumentar o acesso aos cuidados. “Hoje, nosso maior gargalo é a confirmação do diagnóstico no câncer de mama”, explica Maia. 

Roberto Gil, também como representante da gestão nacional da saúde oncológica, destacou a importância da implementação de políticas que foquem nos principais gargalos em relação a cada tipo de câncer. “Nós não reduzimos a mortalidade do câncer de pulmão porque tínhamos o mais novo medicamento, mas sim porque tínhamos políticas públicas efetivas para reduzir e combater o uso do tabaco“, ressalta.

Fernando Ritter abordou a gestão municipal do sistema de saúde e trouxe dados e desafios de Porto Alegre para o debate. 

Trago como exemplo a fila para realizar ecografia mamária. Eram mais de 15 mil solicitações. É necessário uma emenda parlamentar para diminuir essa espera pois os recursos do município não suportam a oferta de todos os serviços. Além disso, precisamos de sistemas inteligente para alertar e disparar na rede o que precisa ser feito e onde. Queremos operacionalizar os sistemas que já temos, acompanhar de perto, melhorar o cuidado com o cidadão para colocar o paciente certo no lugar certo. Se a gente não integrar tudo isso, não teremos o resultado adequado, e a nova lei aborda isso”, explica.

Maira Caleffi apresentou as iniciativas promovidas pelo IGCC e o C/Can nos últimos anos na capital gaúcha, ressaltando os resultados alcançados e as ações futuras para aprimorar a governança do câncer na cidade.

O Instituto de Governança e Controle do Câncer está unido aos parceiros para implementar a nova lei e vamos trabalhar para identificar com precisão quais são as prioridades do município. Porto Alegre está focada no objetivo global de salvar vidas e de minimizar o impacto social do câncer, porque ele é muito maior do que imaginamos. Vamos trabalhar na governança do cuidado!”, destaca.

Após ouvir os colegas de painel, Ben Anderson se disse impressionado com as discussões promovidas, salientando a vontade dos gestores para o enfrentamento ao câncer de mama. “Esta é uma excelente oportunidade para Porto Alegre aprender como trabalhar em conjunto com outras instituições, ajudando cada mulher em seu processo e fazendo com que o cuidado seja centrado no paciente”, comenta.

O poder das cidades no enfrentamento ao câncer

O último painel do Curso de Políticas Públicas abordou “O papel das cidades na prevenção e controle do câncer”, trazendo iniciativas nacionais da sociedade civil. O médico mastologista e vereador de Campo Grande, Victor Rocha, do Mato Grosso do Sul, apresentou o Casa Rosa, projeto desenvolvido para facilitar o acesso à consultas e exames na cidade.

A Dra. Rosemar Rahal, mastologista e professora da Faculdade de Medicina da UFG, mostrou o projeto “Goiânia Sempre Rosa”, desenvolvido para aumentar a oferta de exames e consultas e promover a capacitação de profissionais da saúde. Daniel Buttros, também mastologista e professor da UNESP/Botucatu, compartilhou ações no estado de São Paulo para controle da doença. Maira Caleffi participou da conversa trazendo sua experiência como fundadora do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (IMAMA) e como atual presidente do IGCC e da FEMAMA.

Os eventos do Pré-Congresso Brasileiro de Mastologia demonstraram a importância do intercâmbio entre os diversos setores que compõe os serviços e cuidados oncológicos no país. Apenas pela colaboração e união de esforços é que alcançaremos melhores condições e práticas no enfrentamento ao câncer nas cidades.

O IGCC agradece a participação dos palestrantes, ao City Cancer Challenge e à Sociedade Brasileira de Mastologia pela parceria na organização do curso.