IGCC apresenta resultados da parceria estratégica no enfrentamento ao câncer em Porto Alegre

Foto: Natacha Gastal / IGCC

O Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC) esteve reunido, na manhã do dia 14 de março, com membros da diretoria do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) para apresentar os resultados do extenso projeto “Melhoria do Diagnóstico Precoce de Câncer”, iniciado em 2022 em parceria com o GHC, a maior rede de hospitais 100% SUS do Sul do país e responsável por diagnosticar mais da metade dos casos esperados de câncer para a população de Porto Alegre.

Participaram do encontro Luís Antônio Benvegnú, da Diretoria de Atenção à Saúde (GHC), Quelen Tanize Alves da Silva, da Diretoria de Inovação, Gestão do Trabalho e Educação (GHC) e suas equipes; Katsui Meotti Dai e Flávia Pacheco da Silva, as enfermeiras que executaram as ações do projeto; Gabriela Alerico, da NC Consultoria, responsável pela elaboração das análises e resultados do estudo; e Daniely Votto, diretora executiva do IGCC.

Durante a reunião, foram debatidos os principais resultados da iniciativa que objetivou aprimorar o diagnóstico precoce na atenção primária, acelerar o acesso ao tratamento especializado e fortalecer a rede de saúde do município.

Focando no câncer de pulmão e no melanoma, o projeto foi dividido em três estratégias:

1) Capacitação dos profissionais da atenção primária em oncologia e sensibilização para o câncer de pulmão e melanoma;

2) Estabelecer vias de diagnóstico rápido;

3) Desenvolvimento de programa de navegação de pacientes do sistema público de saúde.

Os resultados

Na primeira etapa, foi analisada a jornada do paciente oncológico desde o início dos sintomas até a realização do tratamento para dez tipos de câncer. Para o de pulmão e melanoma, foi desenvolvido um fluxograma detalhado (itinerário terapêutico) que possibilitou reconhecer gargalos e dificuldades que o paciente enfrenta e promover as melhorias necessárias na trajetória. 

Ainda, foi realizada a capacitação e sensibilização dos profissionais da atenção básica das 13 Unidades Básicas de Saúde (UBS) do GHC em relação aos sintomas e fatores de risco associados aos cânceres foco do projeto, buscando acelerar o encaminhamento correto ao médico especialista. A estratégia também incluiu o desenvolvimento das Árvores Decisórias, ferramentas de auxílio para tomada de decisão do médico generalista. (saiba mais sobre aqui e aqui)

A segunda fase buscou a implementação de um novo modelo de diagnóstico rápido, focado no melanoma, onde foi desenvolvido um aplicativo para priorizar os casos suspeitos da doença.

Na última etapa, foi desenvolvido um programa de navegação para pacientes com câncer de pulmão que reduziu, em média, 30 dias no tempo entre diagnóstico e início do tratamento. Dessa forma, em 100% dos casos acompanhados, a jornada do paciente ficou dentro do prazo preconizado pela Lei nº12.732/2012, que determina o início do tratamento em até 60 dias após a confirmação do diagnóstico. 

Em relação ao câncer de pulmão, foi percebida a necessidade de fortalecer ações de identificação de pacientes de risco e assintomáticos nas UBSs. A partir desta conclusão, “Árvore Decisória para Câncer de Pulmão” foi entregue a todas as UBSs do Grupo e, posteriormente, a todas unidades da cidade. 

Ao olharmos para o melanoma, foi possível conhecer a jornada detalhada do paciente e identificar quais processos podem ser aprimorados para agilizá-la. O aplicativo desenvolvido possibilitou priorizar os casos suspeitos, tendo sido utilizado em paralelo com o sistema de regulação do município (GERCON). A grande melhoria identificada foi a necessidade de um regulador especializado (dermatologista) para melhor organização da fila.

As estatísticas do câncer de pulmão e melanoma

O câncer de pulmão é o segundo mais incidente mundialmente, com 2,2 milhões de casos novos, o que corresponde a 11,4% de todos os tipos de câncer. Ainda, a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2022) alerta que os tumores pulmonares são os mais letais no mundo. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, os cânceres de traqueia, brônquio e pulmão ocupam a quarta posição entre os tipos de câncer mais frequentes no Brasil, sendo a principal causa de óbitos por câncer para a população geral, ocupando a primeira posição entre os homens e a segunda entre as mulheres de acordo com dados do  Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2020). Em 2023, as neoplasias pulmonares estiveram entre as dez principais causas de óbito na população porto-alegrense, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde.

A importância do diagnóstico precoce para a doença se deve ao fato de que, frequentemente, esse tumor é assintomático ou apresenta sintomas inespecíficos nos estágios iniciais, o que leva à um atraso na procura por atendimento médico. Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Oncoguia mostra que 86,2% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados em estágio avançado. Em uma perspectiva regional, no Rio Grande do Sul, mais de 80% dos pacientes iniciaram o tratamento em estadiamento avançado (3 e 4) nos últimos três anos, de acordo com dados do Radar do Câncer de 2023.

As neoplasias pulmonares podem ser diagnosticadas em qualquer pessoa e faixa etária, porém, segundo a American Cancer Society (ACS), a doença atinge principalmente pessoas com idade mais avançada. O INCA aponta que, no Brasil, 90% dos casos de pulmão são diagnosticados após os 50 anos.

Já o melanoma representa apenas 4% das neoplasias malignas cutâneas, embora o câncer de pele seja o mais frequente no Brasil e corresponda a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados. Entretanto, é o tipo mais grave devido à sua alta possibilidade de fazer metástase em outros órgãos. De acordo com dados do INCA (2022), a estimativa é de 8.980 novos casos de melanoma por ano, sendo 4.640 homens e 4.340 mulheres.

Em comparação às demais regiões do Brasil, a Região Sul tem a maior incidência de melanoma para ambos os sexos. Para essa região, o melanoma já aparece como o sétimo mais incidente em mulheres (INCA, 2022). A boa notícia é que o prognóstico desse tipo de câncer pode ser considerado bom se diagnosticado em sua fase inicial. Nos últimos anos, houve um grande aumento na sobrevida dos pacientes com a doença, principalmente devido à detecção precoce do tumor.

Um olhar além dos números

Para além dos resultados específicos, o projeto demonstra a importância de programas de rastreamento para que não se perca a janela de oportunidade do diagnóstico precoce do câncer. O tratamento inicial é mais efetivo não só para o paciente, que tem maiores e melhores chances de sobrevida, como para o sistema de saúde, que consegue precisar e controlar melhor os recursos necessários para a oncologia.

Os desdobramentos dessa iniciativa visam fortalecer o ecossistema de saúde de Porto Alegre, bem como compartilhar a experiência local de forma que possa inspirar outras cidades e organizações no controle e enfrentamento ao câncer. 

Por tudo isso, o IGCC agradece à toda equipe do Hospital por sua disponibilidade em participar do projeto e à Superintendência do Grupo Hospitalar Conceição que foi apoiadora de primeira hora da iniciativa. “Celebramos os ganhos das ações implementadas e reforçamos a continuidade da parceria estratégica no desenvolvimento de projetos para o enfrentamento ao câncer na cidade”, reforça Daniely Votto, diretora executiva do IGCC.

Queremos também expressar nosso agradecimento pelo apoio que recebemos de nossos parceiros, em especial à BMS Foundation e à MSD durante o projeto e em nossos esforços conjuntos por cuidados oncológicos de qualidade. Suas colaborações são cruciais para avançarmos no controle da doença. Juntos, estamos promovendo transformação e impacto positivo em nossas comunidades.

As “Árvores Decisórias” estão disponíveis na área de Conhecimentos do site e você pode ter acesso ao material clicando aqui.